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VIOLÊNCIA ENTRE ADOLESCENTES EM UMA CAPITAL DA REGIÃO AMAZÔNICA MIRANDA, Maria Inês Ferreira1, DELFINO, Rosilâine Keffer2, COL DEBELLA, Bianca3, RESTIER, Renata Bentes4, BARRETO, Pedro Di Tárique5 1

Enfermeira Doutora em Saúde Pública pela USP e docente do Departamento de Enfermagem da UNIR. Enfermeira formada pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR. 3 Discente do 5º período do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Rondônia – UNIR. 4 Discente do 5º período do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Rondônia – UNIR. 5 Mestre em Matemática e docente do Departamento de Matemática da UNIR. 2

Resumo: A violência é conceituada como uma violação da ordem e das regras da vida em comunidade. Ao definir violência no espaço escolar Abramovay (2003), afirma que este fenômeno é antigo e ocorre em todo o mundo configurando como um grave problema social, caracterizado por indisciplina, delinqüência, problemas de relação professor-aluno e aluno-aluno. Este trabalho buscou avaliar o contexto de violência presente nas relações entre adolescentes do segundo ano do ensino médio de escolas públicas e privadas da cidade de Porto Velho, Rondônia, Brasil, a partir da investigação da magnitude do problema. A metodologia baseou-se no método quantitativo, e a coleta foi realizada através da aplicação do instrumento do tipo survey ABRAMOVAY et. al 2002 e ABIPEME em 280 estudantes. As análises estatísticas foram realizadas através do programa Epi Info 3.5.1. Os resultados encontrados mostram que a idade média dos escolares foi de 16,21 anos (± DP 1,07). Dos entrevistados 53% e 47% eram do sexo feminino e masculino respectivamente, 53% se classificaram como mestiço/pardo e 51% pertencem à classe socioeconômica C. 69% dos alunos que responderam ao questionário já sofreram violência verbal. Para 43% dos entrevistados os alunos são quem mais sofrem agressões físicas no ambiente escolar. Quando questionados sobre a reação mediante as agressões 47% dos alunos responderam que se vingam com a ajuda de amigos. De acordo com os entrevistados as armas mais utilizadas nas ocorrências de violência são as facas (13%) e armas de fogo (4%). A existência de ameaças e assalto aos alunos e professores foi confirmada por 66% e 46% dos entrevistados respectivamente. Com base nos resultados é possível afirmar que a violência é vivenciada e protagonizada pelos adolescentes no espaço escolar e que os mesmos agrupam-se por afinidades diante de situações de agressões perpetuando a violência neste meio. O entendimento da realidade existente é primordial quando o intento é aprimorá-la. Nesse sentido, a procura por identificar o diagnóstico da magnitude da violência nas escolas em Porto Velho é um passo importante para: compreender as características que envolvem esse fenômeno e buscar novas visões e abordagens educativas de prevenção a essa problemática na perspectiva de minimizar os efeitos da violência que afeta esta parcela social em formação, tanto física como psicológica. Descritores: Adolescente, violência, escola.

VIOLENCE AMONG ADOLESCENTS IN A CAPITAL OF THE AMAZON REGION MIRANDA, Maria Inês Ferreira1, DELFINO, Rosilâine Keffer2, COL DEBELLA, Bianca3, RESTIER, Renata Bentes4, BARRETO, Pedro Di Tárique5

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Nurse PhD in Public Health at USP and faculty of the Department of Nursing - UNIR Nurse graduated from Federal University of Rondônia – UNIR. 3 Student of the 5th period of the Nursing, Federal University of Rondônia – UNIR. 4 Student of the 5th period of the Nursing, Federal University of Rondônia – UNIR. 5 Master in Teaching Mathematics and the Mathematics Department of UNIR. 2

Abstract: Violence is conceptualized as a violation of the order end rules of community life. In defining violence in school Abramovay (2003), says the phenomenon is ancient and occurs throughout the world shaping up as a serious social problem, characterized by indiscipline, delinquency, problems of teacher-student and student-student. This study aimed to evaluate the context of this violence in adolescent relationships in the second year of high school in public and private schools of Porto Velho, Rondonia, Brazil, from the investigation of the magnitude of the problem. The methodology was based on the quantitative method, and the collection was performed by applying the survey type instrument ABRAMOVAY et. al 2002 and ABIPEME, in 280 students. Statistical analysis was performed using Epi Info 3.5.1. The results show that the average age of students was 16,21 years (SD ± 1.07).Of those interviewed, 53% and 47% were females and males, respectively. 53% classified themselves as mestizo/mulatto, and 51% belonged to socioeconomic class C. 69% of students who answered the questionnaire had experienced verbal violence. For 43% of respondents, students are the ones who suffer physical abuse in schools. When asked about the reaction by the attacks, 47% of students responded that they take revenge with the help of friends. According to the interviewees, the most weapons used in incidents of violence are the knives (13%) and firearms (4%). The existence of threats and assault on students and teachers was confirmed by 66% and 46% of respondents respectively. Based on the results, it is clear that violence is experienced and done by the teenagers at school, and that they are grouped affinities of situations of aggression, perpetuating the violence in this half. The understanding of "reality exists" is paramount when the intent is to improve it. In this sense, the search for identifying the diagnosis of the magnitude of violence in the schools of Porto Velho is an important step: understand the characteristics involving this phenomenon and seek new visions and educational approaches to preventing this problem from the perspective of reducing the effects of violence that affects this portion of social formation, both physical and psychological. Keywords: Adolescents, violence, school.

INTRODUÇÃO

De acordo com Abramovay (2003, p.93) entende-se por violência a intervenção física de uma pessoa ou grupo contra a integridade de outro (s) ou de grupo (s), bem como contra si mesmo

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compreendendo desde suicídios, espancamentos, roubos, assaltos,

homicídios, violência no trânsito, além das diversas formas de agressão sexual, abrangendo, igualmente todas as formas de violência verbal, simbólica (abuso de poder

baseado em símbolos de autoridade) e institucional. Assim, violência é todo ato que implica a ruptura de normas socialmente estabelecidas pelo uso da força. Para os pesquisadores da área educacional a vivencia entre escola e violência não é um evento novo, no entanto, durante muito tempo, esse episódio era simplesmente visto como a violência da escola, como uma ação exercida pelo professor e demais personagens da instituição, que de forma autoritária, impunham aos alunos uma determinada "visão" de mundo. A partir de meados da década de 1980, paralelamente à redemocratização da sociedade brasileira, iniciaram os primeiros estudos sobre violência nas escolas o que modificou o foco da situação. Segundo Miranda (2004, p. 7) os resultados desses estudos revelaram como ocorrência mais frequente de violência escolar, “as ações contra o patrimônio, tais como depredações e pichações, bem como formas de agressões interpessoais entre os próprios alunos”. Neste contexto, o conceito de violência no ambiente escolar configura-se como um grave e complexo problema social, que se desdobra com características específicas. Na escola, a violência simbólica se manifesta por meio da indisciplina, delinqüência, agressões verbais, humilhações, problemas de relação professor-aluno e aluno-aluno. Tais tipos de violência são classificados por Debarbieux (1998, p.44) como "incivilidade" ou "microviolência". Este tipo de violência "se esconde" nas intensas relações desenvolvidas no cotidiano escolar o que contribui para sua perpetuação e eternização. Conforme demonstra a pesquisa nacional Violência nas Escolas, coordenada pela UNESCO, atualmente a violência no ambiente escolar afeta o cotidiano de alunos, professores e diretores, prejudicando o relacionamento entre os membros, a qualidade do ensino, o desempenho dos estudantes e o interesse deles pelos estudos (Abramovay, 2003). Em todo o mundo a violência nas escolas é um assunto diário, gerador de conseqüências intersetoriais. É imprescindível que esses episódios de violência escolar recebam destaque e sejam objetos de discussão das autoridades para se obter uma melhor compreensão do contexto desse problema mundial. Diante da escassez de dados em Porto Velho sobre a realidade vivenciada pelos professores e alunos, associado à relevância do assunto, propõe-se através desse estudo contribuir para a melhoria de referencial teórico que descreve o fenômeno de violência na escola e com isso facilitar na formulação de políticas que direcionem ações para o público em questão.

Desse modo, o objetivo deste trabalho foi avaliar o contexto de violência presente nas relações entre adolescentes do segundo ano do ensino médio de escolas públicas e privadas da cidade de Porto Velho, Rondônia, Brasil, buscando categorizar os principais tipos de violência e identificar seus atores e suas vítimas a partir da investigação da magnitude do problema no município.

METODOLOGIA

Esta pesquisa é resultado do projeto intitulado Violência entre Adolescentes em uma Capital da Região Amazônica - Implantando o Observatório de Violências nas Escolas, financiado em 2009 pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Trata-se de um estudo quantitativo de desenho transversal, concretizado através de um inquérito epidemiológico no qual a fonte de informação foram os escolares do segundo ano de escolas públicas e privadas da cidade de Porto Velho, Capital do Estado de Rondônia, Brasil investigando-se a violência nas relações de adolescentes no espaço escolar. A amostra foi calculada com base no Censo Escolar/INEP/MEC/2006 através de dados fornecidos pela Secretaria Estadual de Educação de Rondônia e Sindicato das Escolas Privadas de Porto Velho. Para a seleção das escolas e das turmas que fizeram parte da pesquisa o método empregado para compor a amostra foi o de Probabilidades Proporcionais ao Tamanho (PPT) juntamente com o cálculo de coeficientes de confiabilidade Kappa (IC95%) considerando um nível de significância de 5%. Para aplicação dos questionários foi realizado agendamento prévio em todas as escolas ficando dia e horário combinados para que não prejudicasse as atividades pedagógicas. Seqüencialmente em dia e horários marcados foram explicados os objetivos e procedimentos da pesquisa aos estudantes e entregues os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para que os pais assinassem autorizando a participação dos alunos já que estes são menores de idades. Foram

aplicados

dois

questionários,

um

instrumento

do

tipo

Survey,

ABRAMOVAY et al. 2002, já utilizado em outro estudo piloto aplicado em nove capitais brasileiras em 2007/2008 (Njaine & Assis, 2009) o que garante a confiabilidade e consistência interna do instrumento (alfa de Cronbach) composto por um conjunto de

perguntas fechadas contendo informações de identificação do adolescente, de relacionamento familiar e com pares, de uso de drogas, de apoio social, de crenças e de violência entre namorados. Dados que possibilitaram conhecer as características dos alunos, as vivências de violência e suas manifestações, e outro com a classificação socioeconômica da Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa e Mercado (ABIPEME). Ambos foram aplicados através de visitas feitas no período de maio a julho de 2009. Para participar da pesquisa os escolares deveriam estar cursando a segunda série do segundo grau da rede de ensino médio público e privado, aceitar responder as perguntas do questionário e trazer o TCLE preenchido e assinado pelos pais. Como critério de exclusão os jovens que faltaram no dia da aplicação dos questionários não participaram, e os que se recusaram tiveram seu direito acatado. Ao término das etapas anteriormente citadas, foram entrevistados 280 estudantes, de ambos os gêneros, em 03 escolas da rede privada e 08 da rede pública. Importante salientar que uma das escolas da rede pública que fazia parte da amostra, recusou-se a participar da pesquisa mesmo com a apresentação de ofícios autorizando o desenvolvimento do trabalho, de modo que teve seu direito respeitado passando-se a escolha da escola que estava como primeira reserva. A análise dos dados foi realizada por meio do programa Epi-Info 3.5.1 através da criação de um banco de entrada de dados cumprindo-se quatro rigorosas etapas: codificação, digitação, correção e análise. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Núcleo de Saúde (CEP/NUSAU) da Universidade Federal de Rondônia obtendo parecer favorável ao seu desenvolvimento conforme carta nº 038/2009/CEP/NUSAU e CAAE 0012.0.047.000-09 (ANEXO I). Seqüencialmente foram realizados contatos com a Secretaria de Estado da Educação, Sindicato das Escolas Privadas juntamente com os Diretores das Escolas. Após a autorização concedida em todas as instâncias acima foram iniciados os trabalhos de campo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Por meio da concordância da direção das escolas e o consentimento dos alunos e pais dos mesmos através da assinatura dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido,

a amostra ficou definida em 280 estudantes respeitando o intervalo de confiança, distribuídos em 8 escolas, sendo 5 escolas públicas com 172 alunos e 3 escolas privadas com 108 alunos. O fato de as unidades escolares se mostrarem dispostas a atender à nossa solicitação e colaborar com a pesquisa revela a preocupação que estas têm dispensado a esta tão importante questão. Na tabela 01, estão demonstradas as escolas e o número de entrevistas realizadas em cada uma delas.

Tabela 01 - Distribuição das entrevistas realizadas segundo natureza da escola. Porto Velho/2009

Escolas Públicas

Número de

Escola A Escola B Escola C Escola D Escola F TOTAL

Entrevistas 77 27 25 25 18 172

(%) 28 10 9 9 6 62

Escolas Privadas Escola G Escola H Escola I Total

Número de

(%)

Entrevistas 44 34 30 108

16 12 10 38

De acordo com a análise da variável gênero constata-se que a amostra de adolescentes entrevistados estava dividida de forma equânime. 53% dos estudantes pesquisados são do sexo feminino. A porcentagem de alunos no sexo masculino, por sua vez foi de 48% (Tabela 02). Entretanto há uma leve predominância do sexo feminino em relação ao masculino nas séries entrevistadas. As mulheres têm tido uma presença crescente em todos os níveis de ensino no Brasil. Consolidam-se como maioria a partir do ensino médio, dominam a graduação e detêm o maior número de bolsas de mestrado e doutorado no país, conforme aponta o estudo “Trajetória da Mulher na Educação Brasileira", trabalho, realizado pelo INEP/MEC e a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (RISTOFF e GIOLO, 2006). Este perfil diferenciado entre homens e mulheres na educação pode ser explicado por (1) diferenças de acesso, permanência e progressão no sistema de ensino (2) tendência a buscar o ingresso no mercado de trabalho, motivado por necessidades econômicas da família, (3) desinteresse por prosseguir nos estudos, (4) expectativas socioculturais quanto ao papel de homem independente e produtivo. (RISTOFF e GIOLO, 2006).

Figura 1- Distribuição dos alunos da amostra segundo gênero e natureza da escola. Porto Velho/2009 58 60

54 46

42

50 40 Pública (%) % 30

Privada (%)

20 10 0 Feminino

Masculino

Com relação variável idade dos participantes, observa-se que a faixa etária predominante foi dos 15 a 17 anos, concentrando 91% dos nossos entrevistados tanto nas escolas públicas como nas escolas privadas. A idade média dos escolares foi de 16,21 anos (± DP 1,07). Esses resultados são condizentes com as idades esperadas dos alunos para a segunda série do Ensino Médio. Outro aspecto a ser considerado na caracterização dos alunos é quanto à raça/cor auto-indicada. “Nas últimas duas décadas, os critérios de raça/cor têm sido considerados essenciais nas pesquisas oficiais brasileiras para se analisar a população em sua diversidade social, cultural e histórica” (ABRAMOVAY, 2009b, p 204). O uso dessa variável está diretamente relacionado ao reconhecimento dos efeitos negativos que raças específicas podem criar, nas condições de vida e oportunidades das populações. “Os indicadores sociais do país não cansam de mostrar que negros e pardos têm menor acesso a educação, sofrem mais com a violência, recebem menores salários e têm maior dificuldade para conseguir emprego” (WEISSHEIMER, 2006). Dos alunos entrevistados da rede pública 60% se consideram como Mestiço/Pardo e apenas 7% se consideram negros. Nas escolas privadas 44% se declararam brancos e 2% negros. Entre as categorias menos assinaladas estão à raça/cor indígena com 2% na escola pública e 1% na escola privada e por último asiático com 1%, em ambas as escolas. Chama a atenção fato de 9,6% de todos os alunos não responderem qual a sua raça/cor (Tabela 03). Abramovay (2009b) em sua pesquisa realizada na rede pública de ensino do Distrito

Federal, 45,4 dos alunos se autoidentificaram como pardos, 22,4% se declararam brancos e 13,3% negros.

Figura 02 - Distribuição dos alunos da amostra segundo cor/raça e natureza da escola. Porto Velho/2009

60 60 42 44

50

Mestiço/Pardo

40 30

Branco

23

Não respondeu

20 9 10

Negro

11 7

Indígena

2 1 1

1 1

Asiático

0 (%)

(%)

Pública

Privada

Para identificar a classe socioeconômica dos alunos foi aplicado o questionário da ABIPEME. Optou-se por incluir essa variável para estratificar economicamente os alunos entrevistados, pois várias pesquisas confirmam que no espaço escolar convivem alunos de diversas classes sociais, tanto nas públicas como nas privadas. Em uma pesquisa realizada com 856 alunos em escolas da rede pública e privada no município de Ribeirão Preto o estrato social das escolas públicas apresenta as seguintes características: 1%, 22% e 23% pertencem à classe A, B e D respectivamente e a maioria pertence à classe C (52%) (Miranda, 2004). A tabela 04 demonstra a distribuição dos alunos desta pesquisa, segundo estrato social. Os percentuais encontrados são próximos aos da pesquisa acima citada. Nas escolas de ensino médio da rede pública de Porto Velho 71% dos alunos pertencem à classe C, e 26% dos alunos pertencem às classes A (3%), B (21%) e D (2%). Por isso inferir que nas escolas públicas só existem alunos de classe D e E é um equívoco. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), ambos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e do Censo Escolar, feito pelo INEP órgão de pesquisa ligado ao Ministério da Educação (MEC), a proporção de estudantes de todas as classes sociais no

ensino público sofre alterações dependendo da região do país. Por exemplo, enquanto a média nacional de crianças e adolescentes em idade escolar na rede pública é de cerca de 80%, nos estados do Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná a porcentagem chega a 90%, um indicativo de que redes mais estruturadas podem atrair e manter os alunos de várias faixas de renda (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2007).

Figura 03 - Distribuição dos alunos da amostra segundo estrato social e natureza da escola. Porto Velho/2009 71

80 70 60 50 40 30 20 10 0

68 Classe A Classe B Classe C

21

Classe E

2 0 3

3

Classe D

19

14

0 0 0

(%)

(%)

Pública

Privada

Não respondeu

Para Abramovay (2009b) fatores fundamentais como o espaço onde se situa a escola, infraestrutura, instalações, ambiente organizado, bem como fatores de caráter imaterial como valores, ensino de boa qualidade, têm efeito na relação entre escola/aluno, aluno/aluno e aluno/professor. Se positivos esses fatores facilitam a convivência entre os atores sociais, fazem com que todos se sintam mais motivados e tenham apreço e respeito pela escola. O clima escolar pode influenciar diretamente o comportamento dos alunos e pode contribuir tanto para o retrocesso quanto para progresso destes. O impacto do clima escolar no desempenho dos alunos faz parte da conclusão de um dos estudos mais importantes na América Latina e Caribe para avaliar o desempenho dos estudantes, o Segundo Estudo Regional Comparativo e Explicativo (SERCE) coordenado pela UNESCO, que avaliou aproximadamente 200 mil estudantes, distribuídos em 8.500 salas de 3.000 escolas em 16 países mais o Estado mexicano de Nuevo León.

Segundo esse estudo as condições do clima escolar influenciam significativamente na diminuição das desigualdades de aprendizagem associadas a desigualdades sociais, inclusive tem maior importância que os fatores de contexto sócio-econômico (INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS EDUCAIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA, 2008). A geração de um ambiente de respeito, aconchegante e positivo é uma das chaves para promover a aprendizagem entre os estudantes. Para entender como se constroem relações conflituosas e não conflituosas entre alunos é necessário abranger as percepções destes a cerca da escola em que estudam. Quando questionados sobre o bairro onde se situa a escola os resultados revelam que na escola pública a avaliação do bairro é positiva, 48% dos alunos consideram o bairro como bom, 35% como regular, 12% como ótimo e apenas 2% consideram ruim. Para os alunos da escola particular esses percentuais não apresentam maiores diferenças, são eles 67% bom, 12% regular, 17% ótimo e 2% ruim (Tabela 05).

Tabela 05 - Distribuição dos alunos da amostra segundo avaliação do bairro das escolas e segundo natureza da escola. Porto Velho/2009 BAIRRO Bom Regular Ótimo Ruim Não respondeu TOTAL

Pública Número (%) 48 82 35 61 12 21 2 8 0 0 100 172

Privada Número (%) 67 72 12 13 17 18 2 2 3 3 100 108

O ambiente escolar é produtor de relações de solidariedade e amizade até as relações mais conflituosas; quando essas não são devidamente trabalhadas o conflito se instala e existe a possibilidade de ocasionar episódios graves de desobediência, desrespeito e violência. A partir de dados quantitativos, procuramos explanar, como as desordens existentes nas relações sociais acabam por vezes, se transformando em ocorrência de violência envolvendo alunos, professores e outros funcionários que convivem no meio escolar.

A tabela 06 avalia as respostas dos entrevistados sobre as manifestações de violência no ambiente escolar. Os índices de resposta de alunos relacionados a violências são bastante expressivos. “A primeira modalidade de violência contra uma pessoa consiste em ameaças” (MIRANDA, 2004, p. 158). As ameaças funcionam como intimidação inspirando medo, tensão e terror, age naquilo que causa pânico, ao ponto de fazer o outro aceitar as regras e imposições do ameaçador. Além disso, agredir verbalmente o outro é uma forma comum de se iniciar um desentendimento ou mesmo uma briga, algo que ocorre tanto na relação entre alunos quanto nas relações de professores com alunos e de alunos com professores.

Tabela 06 - Distribuição das respostas da avaliação dos alunos sobre a manifestação de violência nas escolas, segundo natureza da escola da amostra. Porto Velho/2009

Alunos Funcionários Professores Pais

Pública Ameaças Agressão Física (%) (%) 44 51 15 3 34 6 1 1

Assalto Ameaças (%) (%) 36 27 6 6 12 21 7 0

Privada Agressão Física Assalto (%) (%) 31 43 1 1 3 2 2 5

De acordo com as respostas dos entrevistados 44% e 27% dos alunos das escolas públicas e privadas respectivamente, responderam saber da existência de ameaças a alunos, em segundo lugar vêm à ameaça aos professores com 34% nas escolas públicas e 21% nas escolas privadas. Resultados semelhantes também são apresentados por Abramovay (2003, 2002, 2009) em suas pesquisas. Em relação a casos de agressões ou espancamentos no ambiente escolar, 51% dos estudantes da rede de ensino pública afirmaram que os alunos são as maiores vítimas de agressão física, esse índice se eleva para 31% nas escolas privadas. 3% (pública) e 1% (privada) dos entrevistados afirmaram saber da agressão a professores. Em uma pesquisa realizada por Abramovay (2009b), 69,7% dos alunos afirmam já ter visto agressão física nas escolas. A tabela 06 informa ainda quem são as maiores vítimas de assalto à mão armada que ocorre perto das escolas. Os alunos (36%) e professores (12%) ficam com o primeiro e segundo lugar em relação às escolas públicas, já nas escolas privadas, os entrevistados afirmam serem os alunos (43%) e os pais (5%) as maiores vítimas de assalto.

A tabela 06 apresenta quem são as maiores vítimas de assalto à mão armada que ocorre perto da escola. Os alunos (36%) e professores (12%) ficam com o primeiro e segundo lugar em relação às escolas públicas, já nas escolas privadas, os entrevistados afirmam serem os alunos (43%) e os pais (5%) as maiores vítimas de assalto. “Os comportamentos agressivos que ocorrem na escola são geralmente tratados como naturais e na maioria das vezes são ignorados e menosprezados, tanto por professores como pelos pais” (NETO, 2005, p. 165). Foram analisadas as respostas dos alunos sobre a reação destes mediante as ocorrências de agressão. De acordo com os resultados da tabela 07, verifica-se que a credibilidade dos alunos das escolas públicas na direção escolar está em baixa, pois apenas 19% recorrem a ela quando sofrem algum tipo de violência, já nas privadas 45% dos alunos confiam a resolução do problema à direção. 59% dos alunos das escolas públicas que responderam ao questionário preferem vingar-se com a ajuda de amigos quando são agredidos. Nas escolas particulares esse percentual é de 28%. A pesquisa também mostra que os alunos pouco recorrem a seus pais ou a polícia para solucionar a violência sofrida na escola. A diferença de confiança na direção escolar também foi encontrada na pesquisa de Miranda (2004), realizada em Ribeirão Preto.

Tabela 07 - Distribuição das respostas dos alunos referente questão: quando um aluno sofre uma agressão, o que ele geralmente faz, segundo natureza da escola da amostra. Porto Velho/2009

Vingam-se com a ajuda de amigos Falam com a direção da escola Não Respondeu Não fazem nada Falam com os pais Procuram a polícia TOTAL

Pública Número (%) 59 102 19 32 6 11 6 11 5 9 5 7 100 172

Privada Número (%) 28 30 45 49 9 10 3 3 11 12 4 4 100 108

Segundo os alunos que participaram da pesquisa, entre as armas mais utilizadas nos episódios de violência, encontra-se o estilete com 28% (pública) e 14% (privada), as facas com 19% (pública) e 4% (privada) e as armas de fogo com 6% (pública) e 2% (privada) (Tabela 08). A facilidade em adquirir armas por meio de amigos ou desconhecidos

promove a entrada das mesmas na escola. A presença de armas mesmo quando não acionadas impõem respeito e simbolizam poder e autoridade entre os jovens. “A literatura nacional e internacional sobre violência nas escolas frisa que a disponibilidade de uma arma aumenta as possibilidades de confrontos e de que as pessoas envolvidas numa alteração percam o controle e passem à violência extrema” (Abramovay, 2003, p. 114).

Tabela 08 - Distribuição das respostas dos alunos referente a questão: qual a arma mais utilizada nas ocorrências de violência, segundo natureza da escola da amostra. Porto Velho/2009

Não respondeu Estilete Facas Armas de fogo Porretes Correntes Cacetes TOTAL

Públicas Número (%) 38 65 28 48 19 32 6 10 4 8 1 2 4 7 100 172

Privadas Número (%) 74 80 14 15 4 4 2 2 2 2 2 2 2 3 100 108

CONCLUSÃO

De acordo com os objetivos propostos para este artigo constatou-se através das análises das variáveis que a violência se faz presente nas escolas, tanto da rede pública quanto da rede particular de ensino. Em consonância com resultados de outras pesquisas realizadas (MIRANDA, 2004; ABRAMOVAY, 2002, 2009,) verificou-se que as percentagens de violência física e verbal identificados na rede privada são menores que aqueles identificados nas redes públicas. Entretanto o número de furtos e assaltos são maiores nas escolas particulares. O fenômeno da violência nas escolas foi bastante ressaltado. Em suma, os tipos de violência de maior incidência nas escolas de Porto Velho são as agressões verbais, as agressões físicas, a depredação. As agressões físicas podem acontecer em vários contextos e envolvem alunos, pais professores e outros atores do ambiente escolar . Em níveis intermediários, são identificados as ameaças, roubos e furtos. Embora pouco citado os dados da pesquisa permitem constatar o porte de arma de fogos ou brancas por parte dos

alunos. Mesmo que as armas de fogo não sejam predominantes no ambiente escolar, sua presença é um fato revelador. As armas mais utilizadas em episódios de violência são estiletes e facas. Através dos resultados quantitativos constatamos que a distribuição por classe social dos alunos que participaram da pesquisas, desmentiu a idéia de que nas escolas públicas só estudam pessoas de baixa renda. Uma grande quantidade de alunos faz uma avaliação positiva do bairro onde se situa a escola, contudo também foram feitas críticas. As práticas de indisciplinas e desinteresse são percebidas pelos próprios alunos como o maior problema da escola, seguido pelo desinteresse dos pais pela vida escolar dos filhos. A depredação está presente em ambas as escolas, sendo confirmado por um número considerável de alunos, o que revela que os próprios alunos contribuem para a destruição do espaço físico da escola. A indisciplina compromete o desenvolvimento do ensino e tem como conseqüência o mau desempenho dos alunos dentro de sala de aula e a geração de atos de violência. Quanto às relações pessoais, nas escolas foram relatados com bastante freqüência os problemas relacionados às agressões verbais. As relações entre alunos e a equipe de direção, não são muito efetivas, principalmente nas escolas públicas. Percebe-se que os alunos pouco confiam a resolução de algum problema tanto à direção quanto aos professores. Apesar de não estarmos diante de um quadro de violência brutal e generalizada os dados levantados pela pesquisa não nos devem deixar tranquilos, como verificamos as ameaças, um exemplo de violência simbólica que pode implicar em violência física e as próprias agressões físicas apresentam-se em um número considerável preocupante. A violência está presente e tem-se constituído em um forte inimigo do processo educativo. Não pode, de maneira nenhuma, ser ignorada. O entendimento da realidade existente é primordial quando o intento é aprimorá-la Nesse sentido, a procura por identificar o diagnóstico da magnitude da violência nas escolas em Porto Velho é um passo importante para: compreender as características que envolvem esse fenômeno; buscar novas visões e abordagens educativas de prevenção a essa problemática e construir ações e propostas que forneçam subsídios para formulação de políticas públicas cada vez mais eficientes em preservar o verdadeiro objetivo da escola.

O presente artigo faz parte da pesquisa intitulada: Violência entre adolescentes em uma capital da região amazônica - Implantando O Observatório de Violências nas escolas. Uma iniciativa do Observatório de Violência nas escolas de Porto Velho, que desenvolve várias outras pesquisas com o financiamento do CNPq e Ministério da Saúde. Nosso intuito é colaborar com as instituições públicas de educação buscando soluções para as causas de violência nas escolas. Os resultados das pesquisas subsidiarão ações de extensão, que objetivam a promoção da saúde através do combate à violência.

REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, M. et al. Escola e Violência. Brasília. UNESCO. 2002.

ABRAMOVAY, M. Enfrentando a violência nas escolas: um informe do Brasil. In: Violência na escola: América Latina e Caribe – Brasília: UNESCO, 2003. 480p.

ABRAMOVAY, M. et al. Violência nas escolas. Brasília. UNESCO. 2009a.

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